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sábado, 14 de janeiro de 2012

O novo cangaço




Em vários estados da federação, uma nova categoria de assaltos a bancos vem causando terror a cidades interioranas e, embora, o secretário de Segurança Pública baiano já tenha declarado considerar essa onda de ataques a agências bancárias como “crimes de verão”, a verdade é que estamos diante de um fenômeno que, devido ao modo como os criminosos agem, “tomando conta da cidade”, em alguns estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins já foi denominado de o “novo cangaço”.
Esse novo quadro de violência que teve início na década de 1990, no nordeste brasileiro, foi migrando para outras regiões como o Centro-Oeste e, entre nós, desde 2010 é noticiado com certa regularidade pela grande mídia, a exemplo do que aconteceu na manhã da última segunda-feira (9), quando a pacata cidade de Castro Alves, a 190 quilômetros de Salvador, viveu momentos de terror ao ser invadida por um bando armado que assaltou a agência local do Banco do Brasil.
O ano de 2012 mal começou e já registra sete assaltos a agências bancárias na Bahia, a maioria no interior, e o alvo preferido dos assaltantes é o Banco do Brasil. Mas o ano de 2011 é que foi recorde em número de ataques a bancos em nosso estado. Segundo dados do Sindicato dos Bancários, no último ano foram registradas 110 ocorrências, sendo 82 assaltos, 14 em cidades do interior, e 28 explosões de caixas eletrônicos. Os dados superam os anos anteriores, pois, no ano de 2010 foram 60 registros e em 2009 e 2008, 44 e 48, respectivamente.
Como na época do cangaço, os criminosos de hoje também se aproveitam do grande número de divisas que a Bahia possui com seus vizinhos e das fragilidades dos sistemas preventivos das agências bancárias e do nosso sistema policial. Assim, não é sem sentido que o sucesso de Pernambuco nas políticas de segurança pública seja apontado por especialistas como uma das hipóteses para o aumento das taxas desse tipo de crime em nosso estado.
modus operandi dos “novos cangaceiros” é muito semelhante aos do velho cangaço, pois, este, não raro, fazia uso de reféns, formando um escudo humano; o bando de criminosos também era grande, de 10 a 15 membros, e também preferia atacar pequenas cidades sem muitos recursos de defesa e como essa era a circunstância de quase todas, eles sempre tiveram onde agir.
Qualquer semelhança do velho com o “novo cangaço” é mera coincidência, mas pode-se citar uma série de circunstâncias para a razão de seus sucessos: falta de recursos dos governos, egoísmo de alguns latifundiários (hoje, empresários e banqueiros), incompetência das autoridades policiais, a incapacidade tática e estratégica das forças policiais para lidar com esses fatos e, naturalmente, a falta de sintonia e unidade entre as polícias dos vários estados.
Nenhum mal acontece sem, pelo menos, o nosso secreto consentimento. Assim, inevitável a comparação entre o egoísmo dos latifundiários que beneficiou a ação dos seguidores de Lampião com o da poderosa Febraban (Federação Brasileira de Bancos) que resiste até mesmo à simples obrigação de instalar câmeras de vigilância na parte de fora das agências bancárias, sob a alegação de que vigiar a rua é atribuição do poder público.
Nessa ótica e diante das taxas de juros praticadas pelo sistema bancário brasileiro, foi inevitável a comparação com o diagnóstico sarcástico de Bertold Brecht, na sua famosa peça “Ópera dos três vinténs”: “O que é um assalto a banco, se comparado com a fundação de um banco?”
Diante do alto número de ataques a agências bancárias, o governador da Bahia anunciou, no mês de abril de 2011, investimentos de R$ 20 milhões na criação de uma força-tarefa para tentar combater a ação de quadrilhas especializadas em roubos a banco, com participação de entidades bancárias, polícias estaduais, polícias federais e Ministério Público, mas os números teimam em contrariar o otimismo do governo e da propaganda oficial.
Crimes de verão ou “novo cangaço” fica aqui uma preocupação: espero que os assaltantes de banco, também gostem da festa maior deste país tropical, pois, com a quantidade de efetivo policial deslocado do interior do estado para policiar a capital, em fevereiro, em fevereiro, tem carnaval!

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