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sábado, 22 de fevereiro de 2014

A dança do Maj Estrela.

Tenho demorado de expressar minhas opiniões no blog, para evitar uma máxima que sempre circula na corporação : " quando ele estava na ativa, não fazia nada, agora quer ser o salvador da pátria". Como estou na reserva, fico observando, torcendo e vibrando com o sucesso da PM, até porque deixei nela, com muito orgulho um embrião, hoje capitão , que representa os meus sonhos interrompidos pela necessidade  legal de me inativar. Hoje porém, fiquei sensibilizado em opinar sobre a "dança do major". O que é que o cidadão precisa? Uma polícia que resolva os problemas do cidadão, como cidadão, humano, participativo, baiano e por isso contagiado com o clima da Bahia ou um robót , treinado, insensível que não sente a vibração da comunidade. A participação do major Estrela, é a demonstração que o policial é um indivíduo da sociedade, fardado, com a missão de proteger, sem deixar sua baianidade, parodiando CHE, "endurecer sem perder a ternura". O resto é preconceito!

Em defesa do Major Estrela e seu “Lepo Lepo”


O Major Estrela foi meu professor na Academia. Um dos melhores. Suas aulas descontraidíssimas ajudavam a passar o sono nos dias em que tínhamos aula após uma noite desgastante no serviço de sentinela. Todo mundo gostava – acho até que recebeu menções honrosas de várias turmas por sua habilidade cênica nas aulas.
Agora seu bom humor ganhou o mundo. Circula na internet e nos noticiários baianos um vídeo do oficial dançando fardado o “Lepo Lepo”, hit de sucesso da banda Psirico, que está quase garantida como música do Carnaval de Salvador. Após ser convidado pela cantora Carla Cristina, que animava a apresentação do Plano de Carnaval da PMBA, ele “se jogou” no palco:
Não deu outra: uma horda de defensores da “tradição militar”, da “postura e compostura” e outros conceitos que assumem formas diversas de acordo com as vaidades, quimeras e conveniências pessoais, condenaram a atitude do Major, chegando a afirmar que cenas como essa “envergonham a instituição”.
Coisa de quem está acostumado a policiar o corpo do outro mesmo quando o outro não está atingindo ou violentando ninguém. É a lógica do preconceito, que está em quem enxerga, não em quem é visto. Ou seja: o que faz entendermos que um policial dançando é uma “vergonha”? Qual o desdobramento, para a dimensão profissional, de uma dança? Em que livro sagrado está dito que isso prejudica a prestação do serviço público de qualidade, principalmente considerando as circunstâncias do evento?
Outra coisa. A dança do major é consequência natural do contexto em que o evento foi desenvolvido. O Comandante Geral da PM tem razão quando publicou em seu perfil do facebook: “Quantos de nós já não reclamamos de encontros onde nossos superiores falavam sem ouvir, horas a fio, enquanto a tropa em forma, incomodada, apenas aguardava o fim do monólogo? Os tempos são outros”.
Já tive vergonha de muitos policiais Brasil afora. Sinto isso geralmente quando vejo cenas de constrangimento, violência ou abuso contra o cidadão. O pior é que muitos dos protagonistas dessas cenas vivem de cara fechada, herméticos, durões. Prefiro o “Lepo Lepo” do Major Estrela, que me faz rir e ter acesso a sua humanidade descontraída.