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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A macabra dança dos números


Circulando


Ao contrário do que deixa transparecer o governo do Estado, com uma taxa de 53,51 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, Salvador e região metropolitana (RMS) não têm o que comemorar. O índice supera a taxa nacional (22 para 100 mil) e fica muitíssimo acima do limite aceitável segundo os parâmetros da Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes.
Apesar desse fiasco, o governo do estado prefere jogar para a plateia. Mostra o que interessa – a ligeira redução nos índices de homicídios dolosos na capital e RMS – e protela a divulgação de assuntos incômodos, como a elevação nos dados referentes a roubo de veículos, por exemplo. E no interior do estado, como andam as estatísticas referentes a crimes contra a pessoa?
Tem mais. O fato de Salvador ter reduzido as ocorrências de homicídios em quase 13 pontos percentuais não impressiona. Alguma relação direta com o aumento nesse tipo de crime nas cidades vizinhas? Quem assistiu ao filme Tropa de Elite (primeira versão) pôde ver como, às vezes, nem sempre as estatísticas são o que parecem ser: numa cena em que a ficção se aproxima da realidade, uma guarnição policial desova um cadáver fora de sua jurisdição para maquiar os números referentes à violência.
Um total de 2.037 homicídios dolosos em um ano é um número expressivo: quase 170 por mês, quase seis por dia. Isso, admitindo-se que todos os crimes de morte tenham sido notificados e devidamente registrados pela SSP-BA. E desses, quantos tiveram a autoria determinada? Quantos desses autores foram indiciados, denunciados e aguardam julgamento perante um júri popular?
Quando busca explicar os números astronômicos da violência na Bahia, o governo tem um discurso pronto: trata-se de uma consequência direta do tráfico de drogas, mais especificamente da epidemia que configura o vício do crack. Que o narcotráfico tem influência no aumento da criminalidade é indiscutível. Mas não é o único fator. A certeza da impunidade e a falta de oportunidades para crianças e jovens são outros dos ingredientes desse caldo de cultura em que viceja o crime.
Enquanto isso, assistimos a mais uma encenação em que novos atores recitam textos velhíssimos Não é a primeira vez que um gestor da SSP-BA comemora uma modesta redução no índice de homicídios, esquecendo que, quando se trata de morte (e morte violenta) não há o que festejar. Afinal, se para as autoridades, a dança dos números é motivo de júbilo, para milhares de pessoas, trata-se da perda de filhos, pais, irmãos, amigos. Não de uma, mas de 2.037 vidas humanas.

Um comentário:

  1. NO proximo homicidio que houve, a população manda chamar o governador no local, isso vai diminuir a violencia.

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