Em algumas polícias civis, por exemplo, não é raro que, na falta de um delegado, por motivos vários, um escrivão ou mesmo um agente assuma a função daquela autoridade, lavrando autos de prisão onde o doutor contribui apenas com sua assinatura no documento. Nas polícias militares, há oficiais que, em vez de gerenciar o policiamento que lhe deveria ser atribuído, acaba sendo empregado como comandante de guarnição/viatura, até por ausência de policiamento para gerenciar – em uma cidade em que o policiamento se resume a duas viaturas, por exemplo, como se falar em gerenciamento?
O contrário também ocorre: há delegados de polícia que, por falta de efetivo em sua delegacia, acabam atuando de maneira múltipla, se improvisando no papel de auxiliar de si próprio: é a velha estória do time que cobra o escanteio e cabeceia. Há, também, policiais militares que, embora devessem trabalhar apenas auxiliando seu superior hierárquico, acabam tornando-se protagonistas no seu setor, autorizados pela omissão do seu chefe.
Dificilmente uma empresa minimamente rigorosa em sua gestão, preocupada com suas despesas, sobreviveria deste modo. Uma sapataria que contrata um gerente, dando-lhe formação e salário diferenciado, e o emprega como vendedor, está subutilizando seu capital, do mesmo modo que existem implicações trabalhistas e motivacionais quando se dá atribuição não correspondente à faixa hierárquica de um funcionário, como no caso do vendedor que atua como gerente.
É claro que a modernidade tem prezado por profissionais dinâmicos, com múltiplas competências e flexíveis em seu ambiente de trabalho. Mas, nas polícias, o improviso tem virado regra, o plano B destituiu o plano A de sua precedência, e o que deveria ser eventualidade tornou-se cotidiano.
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