Reportagem Especial: O mundo sem polícia
O
canal de TV a cabo “History Channel” exibiu um excelente documentário,
com o título “O mundo sem ninguém.” Quais as consequências e os
desdobramentos da civilização, se acaso a humanidade desaparecesse? O
que iria acontecer em uma hora, em uma semana, em meses, centenas e
milhares de anos, caso o homem não mais existisse? O excelente
documentário nos leva a reflexão, e por fim, demonstra nossa
insignificância perante as forças da natureza. Ao refletir sobre vários
episódios, nos quais a polícia é criticada e humilhada, especificamente
sobre o mais recente, onde a quase aposentada cantora Rita Lee chama,
durante um show em Aracaju, os policiais de “cachorros”, não esquecendo
de generalizar a origem materna dos que ali se encontravam para
cumprimento da lei, como sendo todos oriundos do baixo meretrício,
imaginei como seria, assim como no documentário, um mundo sem polícia. O
que aconteceria se, de uma hora para outra, todos os policiais
desaparecessem?
Vamos
nos ater ao Rio de Janeiro, em um mundo sem policia. Nas primeiras
horas, não haveria muita diferença. As pessoas, aos poucos, iriam
procurar a certeza de que realmente não mais existia a polícia. Os ricos
demonstrariam um pouco de preocupação, ainda sem querer acreditar.
Uma
semana sem polícia. Nesta primeira semana, a maioria das pessoas daria
início a pequenas transgressões. Os sinais de trânsito não mais seriam
respeitados. Os mais afoitos começam a entrar em lojas, restaurantes e
supermercados, e de lá sairiam sem pagar. Não agiriam como ladrões,
nervosos e correndo. Agiriam com calma e cinismo.
Um
mês sem polícia. A Justiça faria uma reunião de emergência. O ponto
principal a se discutir seria como viabilizar as decisões dos juízes,
sejam prisões, reintegração de posse, ou qualquer cumprimento
obrigatório de uma ordem judicial. Não chegaria a nenhuma conclusão,
pelo simples fato de que não há mais a polícia para fazer cumprir a lei.
Surge um mercado negro efervescente de venda de armas. Todos querem ter
uma.
Seis
meses sem polícia. Os homicídios multiplicam-se por dez. Os corpos
permanecem nas ruas. Não há mais os bombeiros e nem peritos, e nem
policiais para investigar. Almas ainda caridosas recolhem os corpos. Os
políticos, antes detentores de um imenso poder, são caçados como
galinhas gordas, e executados friamente. Alguns oferecem seus bens em
troca da vida. Os presídios foram abertos, já que não mais existem
guardas, e uma imensa horda de criminosos passa a vagar pelas ruas. As
agências bancárias não mais funcionam, face ao grande número de roubos.
Um
ano sem polícia. A cidade se torna um caos. Grupos armados passam a
dominar ruas e bairros. O dinheiro deixa de circular pela inexistência
dos bancos. Os ricos constroem apressadamente bunkers. Não há para onde
fugir, pois em todo o mundo não há mais polícia.
Dois
anos sem polícia. O comércio como no passado não mais existe. Volta-se
ao escambo. A regularidade é o roubo, a extorsão e o homicídio.
Dez
anos sem a polícia. A sociedade encontra-se totalmente esfacelada.
Todos os sistemas de produção foram dizimados. A população foi reduzida
em mais de quarenta por cento, e continua diminuindo face a imensa
matança. Mata-se por qualquer motivo, desde uma antiga desavença até
mesmo porque não se gostou da forma como o outro nos olhou. Os grupos
que se formam tornam-se mais poderosos pela força, expandem seus
domínios, e passam a sequestrar e escravizar pessoas, principalmente
mulheres. Os homens são obrigados a trabalhos forçados.
Vinte
anos sem a polícia. Os limites geográficos antes conhecidos como
cidades e bairros não mais existem. Foram reordenados pelos grupos que
impuseram seus domínios, e receberam nova denominação. Água, comida e
agasalho serão acessíveis apenas aos que possam conseguir pela
violência. Os mais fracos mendigam. As mansões e os prédios de luxo
foram tomados dos mais ricos. Bandos de vândalos e saqueadores
perambulam pela noite, matando, roubando e destruindo.
O consumo de drogas é afinal totalmente liberado. A cultura e a produção literária deixaram de existir em dez anos no mundo sem polícia. Os mais novos não aprenderam nem a ler. Aliada aos homicídios generalizados, as doenças matam ainda mais. Não se produz nenhum tipo de remédio, exceto os caseiros. A sociedade como a conhecíamos, com uma policia tentando manter a lei e a ordem, acabou. Prevalece a barbárie, a lei do mais forte. A existência do homem aproxima-se do fim.
No
túmulo, a cantora Rita Lee, que dezenas de anos antes chamou os
policiais de cachorros e filhos de prostituta, chora ao saber da
desgraça, e pede desculpas. Mas agora é tarde. No mundo sem polícia, a
sociedade acabou.
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