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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Militarismo faz mal à segurança pública?

 

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Com a segurança pública ainda sendo um tema tabu para a maioria da população brasileira, é natural que ainda se confundam as causas da insegurança pública com as causas da ineficiência e da ineficácia da polícia.
Embora esses temas, mesmo que interligados, devessem ser investigados separadamente, com o Brasil adotando um modelo de polícia híbrido no qual convivem duas meias polícias, uma investigativa de caráter civil e uma preventiva de caráter militar, fortemente atrelado à defesa do Estado e não à defesa do cidadão, não é de se estranhar que se vincule a nossa insegurança coletiva quase que exclusivamente à performance da Polícia Militar.
Nessa lógica, nunca foi tão verdadeira aquela máxima de que “uma imagem vale mais que mil palavras”, pois foram as cenas de policiais militares lançando bombas de gás lacrimogêneo e atirando com balas de borracha contra manifestantes, durante os protestos que desde o mês de junho ocuparam as ruas de várias cidades brasileiras, que trouxeram de volta para a pauta do Congresso Nacional a questão da nossa insegurança.
Embora nos debates atuais não seja tão somente a questão do uso da força e da violência policial que defina a tônica das discussões, diante da óbvia crise por que passa a Polícia brasileira, quando a palavra de ordem éreforma, há os que entendem que a violência e os excessos no uso da força vinculam-se à cultura institucional militar vigente nas Polícias Militares. Assim, muitas pessoas, inclusive autoridades, começaram a defender a desmilitarização como forma de dar uma feição verdadeiramente policial as questões de segurança pública.
Como ressalta o cientista social e coronel reformado da PMERJ, Jorge da Silva: “Nutrir concepção militarista na luta contra o crime não é atributo dos militares; pelo contrário, há militares, e com certeza são muitos (se não for a maioria), que não pensam assim; e há civis, e com certeza são muitos (se não for a maioria), que têm concepção militarista a esse respeito”.
Nessa ótica, o cerne da questão, portanto, reside na necessidade de diferenciação entre os sentidos dos conceitos de “militar” e “militarismo”, como faz  Celso Castro que denomina de “espírito militar”, o culto, no âmbito castrense, a valores como a ética, a hierarquia, a disciplina, a integridade moral, enquanto vê no  “militarismo”, a ausência desses valores ou a deturpação dos mesmos.
Concordo plenamente que uma polícia não deve usar táticas de guerra, assim como um Exército não deve utilizar técnicas de policiamento em contextos urbanos, mas, ao contrário do que se propaga, entendo que a cultura militar não é a principal causa para a violência e a letalidade policial no Brasil, pois, o militarismo não explica o fenômeno da violência extrajudicial que atinge tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar, refletindo muito mais a cultura nacional autoritária e hierárquica do fazer polícia que, entre nós, é muito recorrente.
.Sou daquele que acreditam que as Polícias resultam do contexto social em que atuam, por serem integradas por cidadãos oriundos da própria população local, portanto, não concebo uma análise das questões policiais excluindo essas corporações do seu sistema maior: a sociedade.
O modelo policial no Brasil é ineficiente e precisa urgentemente de uma mudança radical e a opção de desmilitarização da polícia é apenas uma das alternativas para tentar reverter o quadro de precariedade em que se encontra a segurança pública brasileira, mas não podemos esquecer que em muitos países há forças policiais com uma estrutura militar (Gendarmerie, Carabinieri, Guarda Civil Espanhola, Polícia Montada Canadense etc.).
A necessária mudança, portanto, vai muito além dos cursos de formação policial, do enrijecimento do crescente aparato legal punitivo (regulamentos, códigos, etc), da criação de Corregedorias, das tentativas de desmilitarização das polícias militares e a bacharelização das polícias civis, entre outras medidas.

Em busca de soluções para as causas da ineficiência e da ineficácia da polícia no Brasil, urge, também, uma especial atenção para as causas da insegurança pública. É necessário que o processo de construção social brasileiro, envolvendo a educação doméstica e formal, a mídia, o segmento político, as igrejas e o mercado, busque instrumentos e crie condições para o desenvolvimento de uma cultura de paz, de uma sociedade mais justa, onde a cidadania não fique restrita ao “direito” de voto. Fonte : Blog á queima roupa

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